segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Dar férias aos cães em vez de abandoná-los


"Há pessoas que, pelo amor e respeito que nutrem pelos seus amigos de quatro patas, vão de férias mas deixam os seus animais aos cuidados de um hotel para cães, o Le Petz, no Loreto. Há abandono de animais, mas há também bons exemplos que devem ser apontados. E seguidos...

O abandono dos animais domésticos é uma triste realidade, para a qual a população deve ser alertada e sensibilizada. Contudo, há também que reconhecer as pessoas que nutrem um enorme amor e respeito por cães e gatos e que, inclusivamente acabam por dedicar a sua vida a estes. É o caso de Graça Pereira da Rosa que, com o seu marido Fernando, abriu há três anos o primeiro hotel para cães e gatos da Madeira, situado no Loreto, Calheta. Cansada da sua profissão, e com vontade de fazer alguma coisa que a deixasse mais feliz, surgiu a ideia de se dedicar a tempo inteiro aos animais domésticos. Assim, teve a ideia de abrir o espaço, denominado Le Petz.

Ali, recebe e cuida principalmente de cães. Na visita que o JM fez ao hotel, na sua companhia, e em que as 26 jaulas estavam todas ocupadas, Graça Pereira apresentou-nos pelo respectivo nome a todos os cães que tinha ao seu cuidado, enquanto os donos gozam das suas férias. Carinhosos, procuravam por uma “festinha” da responsável e da visitante. Em jaulas com o dobro do tamanho do exigido por lei, e com espaços de recreio também de grandes dimensões, os animais gozavam ali umas férias na companhia uns dos outros.

«Os maiores canis têm nove metros quadrados e os menores têm 7,40 metros. Aquilo que é pedido por lei, e para os cães de porte gigante, que são poucos, é um canil com 4,3 metros. Portanto, nós estamos muito acima o que também nos permite conservar famílias caninas juntas. Ou seja, dois cães da mesma casa conseguem ficar juntos. Se ficassem separados entristeciam», reconhece. Os ninhos, ou casas, são também de dimensão superior, bem como as cinco zonas de recreio, usadas duas vezes por dia pelos animais, na companhia de humanos.

Graça Pereira da Rosa diz que um dos aspectos mais gratificantes do seu trabalho é, por um lado, a retribuição com carinhos dos cães e gatos, mas também o contacto com pessoas que gostam de animais e que os tratam bem. «Uma das alegrias do meu trabalho é conviver com as pessoas que cuidam bem dos seus animais. As pessoas que gostam dos animais são geralmente boas pessoas», sublinhou.

Ali, no Le Petz, os animais podem ficar hospedados com a segurança deixada aos donos de que serão bem tratados. Nota-se essa atenção desde o primeiro momento, em que os clientes de quatro patas têm de ter as vacinas em dia, incluindo a vacina da tosse de canil, explicou a proprietária. Actualmente a cuidar de 30 cães e de dois gatos, Graça Pereira da Rosa recordou que uma das razões que a levou a «dar um tiro no escuro» e apostar naquela unidade hoteleira foi porque, em conversas com amigos e conhecidos, estes queixavam-se «da prisão» que era ter cães, por causa das férias. «Tinha até amigos que queriam ter animais mas que sentiam que seria uma prisão, nas férias, em caso de doença e até por motivos de doença ou de viagens de trabalho».

E pela procura, que conta não não só com clientes madeirenses, como estrangeiros, nomeadamente ingleses, alemães, russos, brasileiros, um japonês, holandeses, por exemplo, a aposta revelou-se de sucesso. No Verão, tem sempre as jaulas de hospedagem cheias. Mas, a taxa de ocupação é igualmente alta nos 15 dias de Natal e na Páscoa. O Carnaval já é um momento festivo que motiva mais procura pelos donos dos animais, o que acontece também com os chamados fins-de-semana grandes.

No que se refere a preços, Graça Pereira da Rosa explicou que há quatro níveis de acordo com o tamanho dos cães. O mais baixo é de dez euros por noite se usarem a ração do Le Petz ou 9,50 se os donos fornecerem a ração. O preço mais alto é para cães gigantes, de 14,5 euros com ração por conta da hospedagem e 13,75 euros com os clientes a levarem os alimentos. «Temos preços especiais para estadas prolongadas, atingindo as duas semanas, três semanas ou mensalidades. Fazemos um desconto pelo segundo e terceiro cão de uma família com mais de um animal».

No respeitante a gatos, são 7,5 euros por noite com a nossa razão ou 7 euros com ração própria. A nível de grupo e de estadia, também se aplicam os mesmos descontos.
Esterilização em massa para evitar tantos animais

Graça Pereira da Rosa considera que o abandono de animais é «uma situação vergonhosa para o nosso país». Entende que os animais «são cidadãos do país mas sem sem direito a voto» e lamenta que não se pense seriamente nos problemas dos cães e gatos. «Ninguém pensa neles, o que as pessoas dizem é que já há gente com tantos problemas porque vamos pensar nos animais? Mas as pessoas têm problemas sem ter culpa deles mas muitas vezes são culpadas e os animais nunca têm culpa. É preciso ajudá-los», sustentou. Uma grande ajuda ao problema seria a esterilização em massa, defendendo que que o Governo deveria dar atenção a essa possibilidade e não apenas as associações que promovem a adopção e que procedem a esterilização dos animais ao seu cuidado.

«Uma cadela não esterilizada tem seis a oito filhotes de seis em seis meses. Desses, as fêmeas acabam por ter filhotes. É uma progressão matemática infinita. É preciso esterilizar, nem que seja para depois os deixar onde estão, para não haver mais filhotes». A proprietária do Le Petz, que chega a ser surpreendida com ninhadas abandonadas nas portas do hotel, defende que o controlo de natalidade é essencial.
Jaulas de hospedagem sempre cheias no Verão

A Sociedade Protectora dos Animais Domésticos tem as jaulas destinadas à hospedagem cheias no Verão, e sempre em circulação desde Junho. Há até listas de espera em caso de desistências. De acordo com Nuno Margarido, da direcção da SPAD, os períodos de férias e os festivos, como o Natal, a Páscoa ou outros que propiciem dias de descanso prolongado e fora da região, levam a que muitas famílias procurem a SPAD para deixarem os seus animais em segurança. Ao longo do ano, as jaulas não enchem, mas há alguma procura. Com seis jaulas para cães e seis para gatos, a Sociedade conta actualmente com 12 animais por semana, com uns a sair e outros a entrar.

«O animal é visto pelo veterinário quando entra, tem de ter as vacinas e a desparasitação em dia. A pessoa vai com a garantia de que vai de férias descansada e que o seu animal está a ser bem cuidado e alimentado à nossa guarda», assegurou Nuno Margarido. A tempo médio de hospedagem é de uma semana a 15 dias. «Se for muito tempo, o animal sente falta do dono», comentou. No entender do responsável, quem tem e gosta dos seus animais tenta mantê-los em segurança e com os devidos cuidados quando sai de férias. Se não for através da SPAD, os donos tentam arranjar um vizinho ou familiar que cuide.

Quanto aos preços, o serviço de hospedagem custa cinco euros/dia para gatos e 6,5 euros/dia para os cães, com direito a ração, referiu ainda.
Sensibilização e adopção online

Com o fenómeno do abandono de cães a ganhar contornos alarmantes no país, há que reconhecer o trabalho voluntário de pessoas que estimam os amigos de quatro patas. Para além dos trabalhos desenvolvidos pelas associações, destaca-se o recurso às redes sociais para passar a mensagem de que estes seres vivos merecem respeito e consideração. Dando voz aos abandonados, refira-se, por exemplo que, no Facebook, existem pessoas, grupos e páginas de apelo à adopção, que mostram fotografias de cães e gatos que precisam de novas casas e famílias. Também o problema a nível regional é apontado. Assim, associações e pessoas usam os seus murais para partilharem imagens e apelarem às adopções ou, pelo menos, a que surjam Famílias de Acolhimento Temporário (FAT) ou Famílias de Acolhimento Definitivo). Apontamos o exemplo da página madeirense “O nosso refúgio”, (http://facebook.com/associacao.onossorefugio), atenta aos animais abandonados por toda a ilha.
Não se pode culpar as férias pelo abandono

Com 350 animais a viverem na SPAD (300 cães e 50 gatos), a Sociedade Protectora dos Animais Domésticos lamenta que haja tantos casos de abandono. Mas, como sublinhou Nuno Margarido, não se pode culpar as férias por estas situações. A seu ver, «quem abandona, fá-lo o ano inteiro, mas quem não abandona também não o faz nas férias. Há sempre o cuidado em tentar arranjar quem fique. Infelizmente, há ainda muita gente a abandonar os seus animais durante todo o ano. Em tempo de férias, a consciência das pessoas deve ser no sentido de arranjarem quem vá alimentar o seus animais ou deixá-los na SPAD».
SPAD promove campanha para voluntários passearem cães

A Sociedade Protectora de Animais Domésticos deu início a uma campanha para voluntários que queiram passear os cães que se encontram na SPAD. Intitulada “Circula-cão”, a iniciativa convida os interessados a passear «um amigo de quatro patas».

«Os animais estão em canis, estão em jaulas e também precisam para o seu bem-estar de andar, de fazer exercício», salientou Nuno Margarido, um dos responsáveis pela SPAD, que considerou ainda que esta campanha pode colmatar a falta de voluntários da SPAD. A sua esperança é que, para além da ajuda aos animais, esta acção sensibilize mais para a problemática dos cães abandonados e que também possa potenciar a adopção.
A campanha iniciou-se há uma semana, contando com mais de dez adesões.

A “circula-cão” decorre de segunda a sábado. Durante a semana, é durante todo o dia e, aos sábados é de manhã. Os voluntários podem passear os animais por meia hora ou mais tempo, numa área junto à sede da SPAD, no antigo matadouro regional, cedido pela Câmara Municipal do Funchal.

O responsável acredita que aparecerão pessoas de todas as idades para participar na “Circula-cão”, explicando que a acção foi lançada no verão para que o período de férias da generalidade da população possa, também, ser aproveitado para este fim. “Desde jovens a pessoas de mais idade ou moradores que não têm cães porque estão num apartamento, esperamos pessoas de todas as gerações”, declarou Nuno Margarido, garantindo que “o animal a entregar ao voluntário está de acordo com a fisionomia da pessoa». As crianças poderão também passear um cão, desde que acompanhadas por um adulto. «Eu considero que o projecto tem uma tripla acção: é bom para o animal, bom para o voluntário porque ocupa o seu tempo, bom para a SPAD porque não tem pessoal suficiente»".
Fonte: http://www.jornaldamadeira.pt/not2008.php?Seccao=14&id=193744&sdata=2011-08-29

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