segunda-feira, 1 de novembro de 2010

MEIO AMBIENTE, A ENERGIA NUCLEAR E O FUTURO DA HUMANIDADE


Mauricio Aquino *
Nunca se falou tanto em meio ambiente e em suas consequências como nas últimas décadas. O mundo, hoje, está dividido, no tocante ao futuro da espécie humana, em duas categorias distintas: otimistas e pessimistas. Pela primeira vez na história da humanidade, até as pessoas que não tem cultura para entender a complicada dialética tecno-científica dos pesquisadores, percebem, instintivamente, para onde caminhamos, caso não sejamos capazes de alargar o estreito horizonte que vislumbramos para o
futuro.
O aquecimento global, responsável pelas mudanças climáticas generalizadas sentidas por todos no planeta, vem produzindo situações que evidenciam a vulnerabilidade das populações, produzindo efeitos em cascata sobre a biodiversidade, a agricultura, as mudanças ambientais, os regimes hídricos e as condições de saúde de uma maneira geral. Mas apesar da sensação generalizada de desconforto a respeito do aquecimento do planeta, o que a maioria das pessoas consegue ver é apenas a ponta do iceberg. O grave cenário que se oculta sob as águas profundas ainda é completamente desconhecido.
No último dia 21 de maio de 2010 participei o 3º Workshop de Energia Nuclear, promovido pela Eletrobrás em Aracaju. A finalidade do evento foi expor a política governamental do setor nuclear brasileiro até 2030, quando se estima, teremos 8 a 10 usinas nucleares em pleno funcionamento no país e pelo que tudo indica, várias delas serão no nordeste. De acordo com os organizadores, este mesmo evento ocorreu no estado em novembro de 2009, mas não tomei ciência.
Para justificar o porquê da retomada da discussão nuclear, é preciso dizer que no ano passado a população brasileira consumiu 95% de toda a energia elétrica que produziu, ou seja, por um triz apenas não tivemos um colapso de proporções continentais. Isso só não ficou pior porque o consumo interno caiu em 20% devido às campanhas para a economia de energia junto à população, estimuladas há alguns anos devido às grandes estiagens. Somando-se a esse quadro, o crescimento do consumo de energia vem aumentando 4% ao ano e se não investirmos no setor, estaremos apenas empurrando o problema com a barriga.
É correto afirmar que o Brasil tem um enorme potencial hidroelétrico para geração até 260 GW, ficando abaixo apenas da China, com mais de 300 GW, mas esse total não poderá integralmente aproveitado, pois parte significativa desse potencial está lotado em Parques Nacionais, Terras Indígenas, entre outros tipos de áreas protegidas, portanto, mesmo se os 180 GW, correspondente ao potencial real máximo de geração de energia hidroelétrica brasileiro for aproveitado até 2030, só atenderá 70% do consumo do país. Os 30% restantes, deverão ser atingidos com a combinação de usinas térmicas (convencionais e nucleares) além de outras fontes alternativas em menor escala, como a solar e a eólica, por exemplo.
James Lovelock, um dos mais polêmicos e consagrados ecologistas ingleses. Autor de A Vingança de Gaia, e recentemente, Gaia: Alerta Final, possui posturas muito peculiaridades sobre o futuro do planeta. Quando lemos seu segundo livro nos deparamos com opiniões originais sobre temas muito polêmicos. Ele afirma, por exemplo, que a energia nuclear “é praticamente limpa em comparação com o restante”, ou que “em 600 anos o lixo de alto risco [...] não é mais perigoso que o minério de urânio do qual se originou”. Outra afirmação corriqueira que Lovelock desmistifica é a de que a energia nuclear emite grandes quantidade de dióxido de carbono e, portanto, é tão poluente quanto à queima de combustível fóssil: “ Uma usina [...] em operação não emite nada de dióxido de carbono”. Afirma ele. Lovelock aponta para a energia nuclear como a grande solução em curto prazo para a redução do aquecimento global, afirmando ser esta uma das medidas mais eficientes para a redução das emissões de carbono e, consequentemente, para a redução do aquecimento
global.

Outro argumento que Lovelock detona, é o de que o urânio como um “elemento raro”. “Urânio não é um elemento raro. [...] a Grã-Bretanha possui grande quantidade [...] prontos para produzir energia”. De acordo com ele “nenhuma das fontes de ‘energia renovável’ da moda provocou um impacto significativo sobre o suprimento até agora e, dessas, apenas a energia solar tem chance de cumprir o prometido a tempo de compensar a mudança climática”. Não quero dizer com esse artigo que a energia nuclear seja desprovida de inconvenientes, pois não é, mas entre todas as opções existentes, contemporaneamente, é a mais apropriada.
A verdade é que a humanidade ainda tem tempo para amenizar, praticamente, todas as degradações ambientais vistas até o momento, até mesmo o próprio efeito estufa, mas precisará de ações muito bem orquestradas que, infelizmente, dependem, na grande maioria, de governos corruptos e comprometidos, primeiramente, com os interesses capitalistas. Temos que buscar implementar todas as soluções disponíveis para determos o aquecimento do planeta. Essa deverá ser a grande bandeira que deverá no século XXI unir pobres e ricos, doutores e analfabetos, árabes e judeus, ambientalistas e capitalistas, pois sob tantas bandeiras divergentes, somos todos, habitantes do mesmo planeta, rumo à
falência.
(*) É veterinário, ambientalista e trabalhou ativamente pela conscientização ambiental a partir da década de 80. Atualmente é aluno do mestrado em Saúde e Ambiente da UNIT em Aracaju. (veterinario@mauricioaquino.com)
Publicado em:
GAZETA DE ALAGOAS. Meio Ambiente, a energia nuclear e o futuro da humanidade. Disponível em: http://gazetaweb.globo.com/v2/gazetadealagoas/lista_cadernos.php?cod=167156&ass=57&data=2010-07-03 Acesso em: 01/11/20010

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