segunda-feira, 22 de novembro de 2010

DIROFILARIOSE CANINA

M. V. Selmar Moreira ANIMAL'S / Clínica Veterinária / Av. Nossa Senhora de Fátima, 1525 Fone (86) 3232 7343 / 9437 3551 Teresina - Piauí www.clinicaanimals.com.br

Introdução
Dirofilariose ou dirofilaríase é a denominação dada a doença ou simples parasitismo causado por nematóideo da classe Filarioidea, identificado pela primeira vez por Panthot em 1679. Vermes que na sua forma adulta, fêmeas e machos medem, em média, 30 e 23 cm, respectivamente e parasitam, principalmente artéria pulmonar, ventrículo direito do coração e pulmões de carnívoros (cão, gato, raposa, etc.) e ocasionalmente, o homem de forma apatogênica. O agente causador da doença, ou seja, a Dirofilaria immitis, foi descrito pela primeira vez por Leidy em 1856. Que os descreveu como vermes finos e longos, revestidos por fina película sem grandes características morfológicas. As fêmeas são vivíparas, que quando reproduzem, dão origem às larvas (L1), conhecidas como microfilárias, essas podem ser encontradas na circulação sanguínea periférica. Para que haja a transmissão é necessária a participação de um vetor biológico, que pode tratar-se mosquitos hematófagos dos gêneros Aedes, Anopheles, Culex e pulgas do gênero Ctenocephalides.
Trata-se de uma enfermidade cosmopolita, com maior ocorrência em faixas litorâneas, porém não estando, o interior, livre da possibilidade de ocorrência da doença.
Epidemiologia
Para que a dirofilariose se desenvolva são necessários alguns fatores básicos:
- Uma população considerável de hospedeiros;
- Um reservatório estável da doença;
- Uma população considerável do vetor;
- Um clima ótimo para o desenvolvimento do parasita, temperatura (14 a 27º C) e umidade.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem demonstrado grande interesse pela dirofilariose, dado seu caráter zoonótico, sua virulência, sua crescente prevalência e distribuição mundial. Por outro lado, elevados números de trabalhos vêem sendo desenvolvidos a respeito do assunto, com a finalidade de reduzir lacunas existentes, no que diz respeito à magnitude do problema, as espécies transmissoras, os métodos de diagnóstico e a importância da dirofilariose canina sob o ponto de vista da Saúde Pública.
Essa doença já foi diagnosticada em países como a Itália, Austrália, Portugal, Espanha, Estados Unidos, Canadá. No Brasil há relatos da dirofilariose nos estados do Pará, Pernambuco, Maranhão, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Paraná e Espírito Santo. No Piauí o Médico Veterinário Selmar Moreira (Animal´s - Clínica Veterinária), desenvolveu pesquisa sobre a ocorrência de dirofilariose em 105 cães domiciliados no Município de Luis Correia, cidade do litoral do Estado. Destes, 39 cães, ou seja, 37,14%, apresentaram-se parasitados por D. immitis. Ainda neste trabalho, as microfilárias mediram, em média, 302,76μ de comprimento, a concentração sanguínea média, foi de 4.121 microfilárias/ml e não foi estabelecida relação entre o sexo dos animais e a presença da doença.
Observa-se que em áreas litorâneas há uma maior porcentagem de animais parasitados. Pesquisas revelam que mesmo animais que não frequentaram faixas litorâneas, devem ser submetidos a testes diagnósticos quando apresentarem sinais clínicos da doença, uma vez que já foram detectados animais positivos em cidades do interior do país, como Uberlândia, Cuiabá, cidades do interior de São Paulo e Rio de Janeiro.
Ciclo Biológico
As microfilárias circulantes em estágio L1 (estágio pré-larval) (fig. A), são ingeridas pelo vetor biológico e aloja-se nos túbulos de Malpighi deste, onde se desenvolvem para L3 num período de 10 a 14 dias, quando migram para o lúmen da bainha labial do vetor. No mosquito, a larva necessita de uma temperatura ótima para se desenvolver, que é de 14º a 27º C. Abaixo dessa temperatura a larva poderá não se desenvolver. Ao picar o hospedeiro definitivo, no repasto sanguíneo, as larvas em estágio L3, são liberadas e penetram ativamente na pele quando migrarão para os tecidos subcutâneos, serosos e outros, evoluindo-se para L4, onde permanecerão por 60 a 90 dias, quando, presume-se, cairão na corrente sanguínea de retorno ou venosa e chegarão ao ventrículo direito do coração. A maturação e a cópula ocorrem no ventrículo esquerdo, artérias pulmonares, onde podem viver por até sete anos. A liberação de novas microfilárias pelas fêmeas, dá-se em torno de seis meses após a infecção, quando ganharão a circulação periférica e iniciarão um novo ciclo.
Hospedeiros
Além do cão, outras espécies podem comportar-se como hospedeiro da D. immitis. Aqueles servirão como fonte para infestação de animais saudáveis, a saber:
- Lobo Guará (Chrysocyon brachyurus)
- Raposa cinza (Urocyon cinereoargenteus)
- Raposa Vermelha
- Gato doméstico (Felis domestica)
Existem, também, hospedeiros nos quais a doença não se desenvolve. As microfilárias infectantes são encapsuladas ao penetrarem na pele. Estes hospedeiros são:
- Homem
- Castores
- Ursos
Patogenia
As principais lesões produzidas pela D. immitis são: inflamação crônica dos pulmões, trombose e hipertensão pulmonar, fibrose e enfizema pulmonar, hemossiderose nos linfonodos e baço. Em casos mais avançados da doença, os pacientes apresentam congestão dos linfonodos hepáticos, ascite e anasarca. Estenose da artéria pulmonar também é um quadro comum por hipertrofia da íntima do vaso. A distribuição e severidade das lesões dependem do número e posição dos vermes, mas as artérias lombares caudais, apresentam maior comprometimento. Hipertrofia cardíaca também ocorre, além de dilatação, principalmente, do ventrículo direito.
Os animais que desenvolvem doença cardio-pulmonar podem não manifestar nenhum sinal clínico ou esses sinais podem apresentar-se na forma de dispnéia, intolerância ao exercício físico que se agrava devido à resistência ao fluxo sanguíneo nos alvéolos, hemoptise, síncope.
A síndrome da veia cava é um sinal clínico manifestado pelos doentes graves, devido a grande concentração de vermes adultos no átrio direito do coração, válvula tricúspede e veia cava caudal.
Hemólise, anemia e bilirrubinuria são lesões provocadas por comprometimento hepático primário.
A doença renal provocada pela doença ainda é controversa. O que os autores relatam é a presença de glomerulonefrite membranosa por obstrução do capilar renal pelas microfilárias ou por reação do tipo complexo imune. Essa síndrome glomerular pode ser estabelecida através da presença de moderada concentração das proteínas a urinálise e, ocasionalmente, presença de microfilárias.
Resumindo, os sintomas mais freqüentes são: anorexia, perda de peso, apatia, tosse, fadiga ao esforço físico e crises ocasionais de hemoptise.
O prognóstico é reservado, podendo ocorrer mortes súbitas por obstrução, devido à presença de microfilárias ou vermes adultos, das artérias ou capilares dos pulmões, SNC, coração, intestinos ou rins.
Diagnóstico
O diagnóstico da dirofilariose deve ser centrado na história clínica do animal, através da observação dos diversos sinais clínicos apresentados.
Entre os diversos métodos diagnósticos para D. immitis podemos destacar a radiologia, ecocardiografia, angiografia, testes sorológicos, detecção e diferenciação de microfilárias (exame direto ou pelo método de Knott modificado) e necropsia.
Quando se atende um animal suspeito de estar acometido por dirofilariose, deve-se ter em mente que os principais sinais clínicos são provenientes, principalmente, de lesões cardio-pulmonares, renais e hepáticas, com isso, aliado a uma boa anamnese, um bom exame clínico, sabendo-se da origem do animal, se de origem de área endêmica para a doença, pode-se direcionar os exames laboratoriais para o diagnóstico da doença.
O exame radiológico do coração e pulmão é um importante método para se avaliar a presença e/ou severidade da infestação por D. immitis. As mudanças mais comuns manifestam-se na presença de uma maior radiopacidade do lado direito do coração, artéria pulmonar principal e lóbulos do pulmão. Esse diagnóstico, porém, deve ser confirmado por exames complementares que incluem pesquisas de microfilárias na circulação periférica e reação antigênica do parasito adulto, que serão descritas posteriormente.
Diagnóstico Epidemiológico - Consiste em relacionar a presença do paciente sintomático a ambientes com reconhecida existência de vetores biológicos da doença, assim como a áreas onde já tenha sido diagnosticada a dirofilariose em algum animal.
Diagnóstico Laboratorial - Recomenda-se como complementação aos demais exames. Neste serão observadas as microfilárias circulantes no sangue periférico ou a reação antigênica resultado da presença dos vermes adultos.
Gota espessa - É feita através da colocação de uma gota de sangue total, logo após a colheita, entre lâmina e lamínula e observada no microscópio óptico comum a um aumento de 40x, usado-se uma baixa intensidade de luz. Porém existe a possibilidade de falso negativo, daí a necessidade de outros exames complementares.
Gota de soro - Colhe-se uma quantidade de sangue, sem anticoagulante, e deixa o material coagular, do sobrenadante retira-se uma gota e leva-se ao microscópico óptico com aumento de 40x. Essa técnica tem a vantagem de terem sido separadas partes sólidas das partes líquidas do sangue, o que facilita a visualização da microfilária.
Knott modificada - Em um tubo com capacidade para 10 ml, coloca-se 1 ml de sangue total, que foi colhido previamente com anticoagulante, adiciona-se 9 ml de formol a 2%, centrifuga-se a 1.500 rpm durante 5 minutos, despreza-se o sobrenadante e, à fração sedimentada, adiciona-se de duas a três gotas de azul de metileno e coloca-se uma gota entre lâmina e lamínula e lê-se ao microscópio comum aumentado 40x. È uma técnica bastante eficiente por ser sensível e permite detectar uma baixa microfilaremia e identificar as microfilárias (medir e contar).
Prova antígeno-anticorpo - Existem no mercado vários kits para testes para detecção de espécimes adultos de D. immitis. Podemos destacar alguns que podem ser encontrados no Brasil: assure CH, dirocheck e snapcanine heartworm PF. Porém são métodos pouco práticos, muitas vezes sem especificidade, pois alguns podem apresentar reação cruzada com vermes gastrointestinais. São pouco sensíveis, pois os vermes têm de ter mais de cinco meses e se forem machos não há reação. Em resumo não há nenhum teste, atualmente, que seja seguro e eficaz na detecção da D. immitis. Quando escolhida essa prova, como integrante dos meios para o diagnóstico da dirofilariose, aquela deverá sempre estar correlacionada com outros métodos de diagnóstico por apresentarem limitações consideráveis.
Diagnóstico diferencial - Por haver vários filarióides nos mamíferos, deve-se diferenciar o verme adulto ou a microfilária encontrada de outros nematóides. O Dipetalonema reconditum tem importância por ocorrer em áreas onde também ocorre a D. immitis e por liberar microfilárias na circulação. Porém, o D. reconditum, não causa doença, por ficarem, as larvas, encapsuladas no tecido subcutâneo do animal. A diferenciação das duas espécies pode ser feita através de diferenças morfométricas. A tabela abaixo relaciona algumas das diferenças mais importantes entre as larvas das duas espécies.
Necrópsia
Na verdade é o método de diagnóstico menos desejado, mas é, na dirofilariose, o mais preciso. Nele, os vermes adultos, são encontrados no ventrículo direito do coração, pulmões e/ou artérias pulmonares. As infestações ectópicas são raras, mas ocorrem. Podem ser observadas no olho, SNC, ramos caudais de artérias.
Tratamento
O objetivo do tratamento é eliminar os vermes adultos e microfilárias. É recomendável que se faça essa medida com o mínimo de trauma ao paciente, tanto quando se refere à toxicidade da droga, quanto nas consequências da inevitável embolia causada pelos vermes adultos mortos. Pacientes com uma taxa de vermes adultos baixa terão maior êxito no tratamento, por diminuir a embolia.
Recomenda-se, antes de instituir-se o tratamento, que o proprietário do animal seja concientizado dos benefícios e efeitos colaterais possíveis após o inicio do tratamento. É possível que animais que apresentam severidade nas lesões e/ou doenças paralelas, estejam impossibilitados de serem tratados. Uma vez decidido que o animal pode receber o tratamento, parte-se para a escolha do protocolo que melhor se adapte ao paciente.
Atualmente existem duas drogas, no mercado nacional, de eleição para o tratamento da dirofilaria em estágio adulto:
Tiacetarsamida sódica - (Carpasolate; Merial) – Os resultados, nos animais tratados com essa droga, são melhores evidenciados quando os animais apresentam uma infestação leve. A administração é exclusivamente endovenosa, sob pena de haver necrose no local onde houver extravasamento da droga. Na dose de 2,2 mg/kg de PV, de 12 em 12 horas durante três consecutivos.
Os efeitos colaterais advindos da administração deste medicamento manifestam-se na forma de vômitos, porém o tratamento deve ser continuado, exetuando-se em casos de vômito persistente e apareça anorexia e icterícia, nesses casos o tratamento deverá ser suspenso.
O trombo-embolismo e seus efeitos são as principais manifestações colaterais, devido à obstrução das artérias pulmonares pelos vermes mortos, e se o tratamento tiver tido resultado, algum número de obstrução ocorrerá. Os sinais clínicos dessa consequência são febre, tosse, hemoptise. Estes pacientes necessitam de tratamento antiinflamatório através da administração de corticóides. Animais com trombocitopenia e proteinúria devem ter o pós-tratamento monitorado cuidadosamente, pois poderá ocorrer trombose grave e coagulação intravascular disseminada (CID).
Dihidrocloridrato de melarsomina - (Immiticide; Merial) - Droga de eleição para o tratamento de vermes adultos por ser mais eficiente, menos tóxica e de fácil manejo. Os animais com infestações de leve à moderada, devem receber duas doses de 2,5mg/kg, com intervalo de 24 horas em injeção profunda na musculatura lombar.
Animais com doença grave devem receber o tratamento em duas etapas. Na primeira, receberá uma dose de 2,5mg/kg em injeção intramuscular lombar profunda. Numa Segunda etapa receberá duas doses de 2,5mg/kg com intervalo de 24 horas entre uma dose e outra, também em injeção intramuscular lombar profunda.
O tratamento microfilaricida deve ser iniciado de três a seis semanas após o tratamento adulticida. As drogas mais eficazes são a milbemicina (500 a 999mcg/kg, VO) e ivermectina (50 mcg/kg, VO).
Os animais que apresentaram uma doença mais agressiva deverão receber doses menores e mais frequêntes de seis a 12mcg/kg, VO, que eliminará as microfilárias gradualmente.
Há autores que classificam, ainda, um outro grupo de pacientes: os gravíssimos (com síndrome da veia cava), esses não suportariam um trombo-embolismo severo, nestes, os vermes, deverão ser removidos cirurgicamente.
Prevenção
Quando terminado ou concomitantemente ao tratamento adulticida, devem-se estabelecer estratégias que impossibilitem o nascimento de novos vetores, que não permita que os vetores que já existam sejam infectados, que os que já estão infectados transmitam a doença. Prevenir, como em todos os setores da saúde, e aqui não é diferente, é mais eficiente para se conter uma doença, mais barato e mais seguro.
Atualmente existem alguns produtos preventivos aprovados no Brasil: dietilcarbamazine, ivermectim, milbemicina e moxidectina. Um outro está em fase de aprovação, o selamectin. Autores recomendam que se inicie a administração das medicações preventivas 15 dias antes do animal ser exposto ao vetor e 60 dias após a exposição. Uso de repelentes também é recomendável para animais que habitam em área endêmica para a doença.
Além de formar uma barreira contra a doença no animal, outras medidas são tidas como essenciais para a prevenção da dirofilariose. Entre elas podemos destacar a diminuição da população de vetores biológicos, através de uso de inseticidas e borrifações estratégicas pelo órgão estatal competente. Implantação de aterros de terrenos propícios a alagamentos e acúmulo de água.
Atualmente existem estudos no sentido de desenvolver uma vacina contra a doença, porém não se chegou a nenhuma conclusão satisfatória.
Referências:
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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

MEIO AMBIENTE, A ENERGIA NUCLEAR E O FUTURO DA HUMANIDADE


Mauricio Aquino *
Nunca se falou tanto em meio ambiente e em suas consequências como nas últimas décadas. O mundo, hoje, está dividido, no tocante ao futuro da espécie humana, em duas categorias distintas: otimistas e pessimistas. Pela primeira vez na história da humanidade, até as pessoas que não tem cultura para entender a complicada dialética tecno-científica dos pesquisadores, percebem, instintivamente, para onde caminhamos, caso não sejamos capazes de alargar o estreito horizonte que vislumbramos para o
futuro.
O aquecimento global, responsável pelas mudanças climáticas generalizadas sentidas por todos no planeta, vem produzindo situações que evidenciam a vulnerabilidade das populações, produzindo efeitos em cascata sobre a biodiversidade, a agricultura, as mudanças ambientais, os regimes hídricos e as condições de saúde de uma maneira geral. Mas apesar da sensação generalizada de desconforto a respeito do aquecimento do planeta, o que a maioria das pessoas consegue ver é apenas a ponta do iceberg. O grave cenário que se oculta sob as águas profundas ainda é completamente desconhecido.
No último dia 21 de maio de 2010 participei o 3º Workshop de Energia Nuclear, promovido pela Eletrobrás em Aracaju. A finalidade do evento foi expor a política governamental do setor nuclear brasileiro até 2030, quando se estima, teremos 8 a 10 usinas nucleares em pleno funcionamento no país e pelo que tudo indica, várias delas serão no nordeste. De acordo com os organizadores, este mesmo evento ocorreu no estado em novembro de 2009, mas não tomei ciência.
Para justificar o porquê da retomada da discussão nuclear, é preciso dizer que no ano passado a população brasileira consumiu 95% de toda a energia elétrica que produziu, ou seja, por um triz apenas não tivemos um colapso de proporções continentais. Isso só não ficou pior porque o consumo interno caiu em 20% devido às campanhas para a economia de energia junto à população, estimuladas há alguns anos devido às grandes estiagens. Somando-se a esse quadro, o crescimento do consumo de energia vem aumentando 4% ao ano e se não investirmos no setor, estaremos apenas empurrando o problema com a barriga.
É correto afirmar que o Brasil tem um enorme potencial hidroelétrico para geração até 260 GW, ficando abaixo apenas da China, com mais de 300 GW, mas esse total não poderá integralmente aproveitado, pois parte significativa desse potencial está lotado em Parques Nacionais, Terras Indígenas, entre outros tipos de áreas protegidas, portanto, mesmo se os 180 GW, correspondente ao potencial real máximo de geração de energia hidroelétrica brasileiro for aproveitado até 2030, só atenderá 70% do consumo do país. Os 30% restantes, deverão ser atingidos com a combinação de usinas térmicas (convencionais e nucleares) além de outras fontes alternativas em menor escala, como a solar e a eólica, por exemplo.
James Lovelock, um dos mais polêmicos e consagrados ecologistas ingleses. Autor de A Vingança de Gaia, e recentemente, Gaia: Alerta Final, possui posturas muito peculiaridades sobre o futuro do planeta. Quando lemos seu segundo livro nos deparamos com opiniões originais sobre temas muito polêmicos. Ele afirma, por exemplo, que a energia nuclear “é praticamente limpa em comparação com o restante”, ou que “em 600 anos o lixo de alto risco [...] não é mais perigoso que o minério de urânio do qual se originou”. Outra afirmação corriqueira que Lovelock desmistifica é a de que a energia nuclear emite grandes quantidade de dióxido de carbono e, portanto, é tão poluente quanto à queima de combustível fóssil: “ Uma usina [...] em operação não emite nada de dióxido de carbono”. Afirma ele. Lovelock aponta para a energia nuclear como a grande solução em curto prazo para a redução do aquecimento global, afirmando ser esta uma das medidas mais eficientes para a redução das emissões de carbono e, consequentemente, para a redução do aquecimento
global.

Outro argumento que Lovelock detona, é o de que o urânio como um “elemento raro”. “Urânio não é um elemento raro. [...] a Grã-Bretanha possui grande quantidade [...] prontos para produzir energia”. De acordo com ele “nenhuma das fontes de ‘energia renovável’ da moda provocou um impacto significativo sobre o suprimento até agora e, dessas, apenas a energia solar tem chance de cumprir o prometido a tempo de compensar a mudança climática”. Não quero dizer com esse artigo que a energia nuclear seja desprovida de inconvenientes, pois não é, mas entre todas as opções existentes, contemporaneamente, é a mais apropriada.
A verdade é que a humanidade ainda tem tempo para amenizar, praticamente, todas as degradações ambientais vistas até o momento, até mesmo o próprio efeito estufa, mas precisará de ações muito bem orquestradas que, infelizmente, dependem, na grande maioria, de governos corruptos e comprometidos, primeiramente, com os interesses capitalistas. Temos que buscar implementar todas as soluções disponíveis para determos o aquecimento do planeta. Essa deverá ser a grande bandeira que deverá no século XXI unir pobres e ricos, doutores e analfabetos, árabes e judeus, ambientalistas e capitalistas, pois sob tantas bandeiras divergentes, somos todos, habitantes do mesmo planeta, rumo à
falência.
(*) É veterinário, ambientalista e trabalhou ativamente pela conscientização ambiental a partir da década de 80. Atualmente é aluno do mestrado em Saúde e Ambiente da UNIT em Aracaju. (veterinario@mauricioaquino.com)
Publicado em:
GAZETA DE ALAGOAS. Meio Ambiente, a energia nuclear e o futuro da humanidade. Disponível em: http://gazetaweb.globo.com/v2/gazetadealagoas/lista_cadernos.php?cod=167156&ass=57&data=2010-07-03 Acesso em: 01/11/20010

ACHATINA FULICA NO BRASIL (www.achatinafulica.com)

Visit www.achatinafulica.com Questions? snail@achatinafulica.com


No Campus da Ufal em Maceió em 2010 foram encontrados inúmeros exemplares de Achatina fulica perfeitamente adaptados
Mauricio Aquino*
O Brasil é um dos 17 países que reúnem, juntos 70% de todas as espécies animais e vegetais catalogadas no planeta. Estima-se que apenas o Brasil hospede entre 15-20% de toda a biodiversidade do planeta, além de possuir o maior número de espécies endêmicas do mundo. (GISP, 2010) Mas, existem também, as espécies animais e vegetais que são introduzidas num ecossistema ou país onde não existia, intencional ou acidentalmente e que, na grande maioria das vezes são danosas ao meio ambiente, sendo chamadas de invasoras. De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), parceira do Programa Global de Espécies Invasoras (GISP), o Achatina fulica é uma delas.
No Brasil podemos dar citar como espécies invasoras: Moluscos: Achatina fulica, Limnoperna fortunei; Insetos: Anthonomus grandis, Bemisia tabaci, Ceratitis capitata, Paratrechina longicornis; Espécies Vegetais: Ambrosia artemisiifolia, Lespedeza cuneata, Bambusa vulgaris, Eichhornia crassipes, Elaeis guineensis, Leucaena leucocephala, Ricinus communis, Rottboellia cochinchinensis;Peixes: Aristichthys nobilis, Carassius auratus, Cyprinus carpio, Hypophthalmichthys molitrix, Micropterus salmoides, Oncorhynchus mykiss, Oreochromis aureus; Medusa: Phyllorhiza punctata; Pássaro: Columba Lívia; Anelídeo: Ficopomatus enigmaticus; Mamífero: Lepus europaeus, Mus musculus, Sus scrofa; Réptil: Trachemys scripta elegans; Briozoário: Schizoporella unicornis; e até microorganismo como o Vibrio cholerae. (Grifo Nosso)
O Achatina fulica ou caracol africano, nativo da costa leste da África (Quênia e Tanzânia), de acordo com Prasad (2004), é uma das 100 espécies invasores mais prejudiciais do planeta. Hoje, é encontrada em todos os continentes, exceto na Antártida. É uma espécie muito resistente, sendo capaz adaptar-se a distintas condições ambientais. O Achatina “é apontado como uma ameaça a agricultura e aos ecossistemas nativos, tendo um impacto negativo sobre a fauna nativa, atuando como vetor de doenças humanas”. (IUCN, 2010). Não sendo exigente quanto à alimentação, consome pelo menos, “500 diferentes tipos de plantas, incluindo a fruta-pão, mandioca, cacau, mamão, amendoim e a maioria das variedades de feijão, ervilha, pepino e melão. [...] também come areia, pedriscos, ossos de carcaças e até concreto como fontes de cálcio. É uma ameaça para as espécies nativas, afetando ecossistemas nativos alterando a cadeia alimentar, constituindo-se em fontes alternativas alimentos para os predadores”. (PRASAD, 2004)
No Brasil, “a introdução [...] deu-se a partir do ano de 1988”. (PAIVA, 2004 apud SOUZA, 2007) “A disseminação do animal [...] já se encontra registrada em 23 estados brasileiros, perpassando diferentes ecossistemas” (TELES et al., 1997 apud SOUZA, 2007)
Embora eu seja um entusiasta da espécie, recomendando, inclusive o seu consumo pela população mais carente como complemento alimentar, não posso negar que a espécie possa, “em condições especiais”, ser vetor, embora raramente, de duas importantes antropozoonoses quando consumido cru ou mal cozida: o “Angiostrongylus cantonensis, verme pulmonar de roedores, a causa mais comum da Meningite Eosinofílica humana e o Angiostrongylus costaricensis, o agente causal da Angiostrongilíase Abdominal ou Intestinal”. (SES/SP, 2010) “Os principais hospedeiros intermediários para o A. costaricensis são lesmas da família Venonicellidae enquanto o Achatina, o Gigante Africano é considerado um dos mais importantes hospedeiros para o A. cantonensis”. (NEUHAUSS, 2007 apud ALICATA 1965, MORERA 1973)
No entanto, o risco que corremos em contrair uma das parasitoses citadas através do Achatina fulica, mais de 20 anos depois de sua introdução no país é insignificante se comparado ao risco que corremos em adquirí-la a partir de lesmas nativas da família das Veronicelídeas, principais hospedeiros intermediários de Angiostrongylus costaricencis no Brasil.
O consumo do caracol pelo homem é prática muito antiga, pois são freqüentes os achados arqueológicos em cavernas e sambaquis (*) no norte da África, que datam da pré-história. Arqueólogos encontraram depósitos sambaquis que variavam de 10 a 200 metros de comprimento com até 1.5 metro de altura, numa indicação de que os caracóis já foram, no passado, largamente consumidos, associando o seu consumo pelo homem, à diminuição da caça nos períodos glaciais e ao seu fácil armazenamento, devido a sua capacidade de estivar ou hibernar, por longos períodos. Eu mesmo consumo, regularmente, animais coletados na natureza, que me são presenteados por um morador de Paripueira, onde é praga, especialmente nos meses mais chuvosos do ano.
Com a introdução dessa nova espécie no país, os helicicultores (**) brasileiros acreditaram ter encontrando uma espécie resistente, prolífera, precoce e principalmente, adaptada ao nosso clima, imagine então, o quanto foi decepcionante quando o IBAMA proibiu a sua criação em cativeiro devido a pressão da imprensa mal informada que, até hoje, divulgar ser esta espécie como um grave risco a saúde humana. No entanto, 22 anos após a sua introdução e distribuição por quase todo o Brasil, o Caramujo Africano é citado como responsável por um único caso clínico, não publicado, de meningoencefalite eosinofílica [...] em um encontro regional em 2006, de acordo com Caldeira (2007, pag. 887). Felizmente não há nenhum outro caso descrito de Achatina fulica causando prejuízos a saúde humana, à agricultura (exceto as pequenas hortas) ou as espécies nativas.
É uma inverdade afirmar que os criadores desfizeram-se de seus animais simplesmente porque a atividade era antieconômica, conforme se lê, frequentemente. Antes do IBAMA proibir a sua criação no país, muito provavelmente, devido à pressão exercida pela imprensa, iriam ser inauguradas no estado de São Paulo, cooperativas destinadas à industrialização do Achatina.

(*) Sambaqui é o nome dado a um aglomerado de conchas, evidência de resto de consumo humano de épocas passadas, que se acumulavam próximo aos agrupamentos, anos após ano, décadas após décadas.
(**) Criadores de caracóis para consumo.

Isso iria resolver, definitivamente, a questão da comercialização, o principal obstáculo, frequentemente apontado ao crescimento da atividade no Brasil. Mas no momento em que a sua criação passou a constituir-se em crime ambiental, muitos criadores desfizeram-se de seus animais, simplesmente, jogando-os fora, ainda vivos.
Eu poderia até a arriscar uma afirmação, a de que a ampla divulgação de declarações alarmistas e inconsistentes através da imprensa, a respeito do “risco potencial” desta espécie, foi o grande responsável pela acelerada infestação do ambiente urbano e rural, pois uma vez libertados, praticamente, ao mesmo tempo, em diversos estados brasileiros, oriundo dos criatórios que passaram a ser considerados “ilegais”, de um momento para o outro, o caramujo possuidor de grande prolificidade, resistência a doenças e praticamente sem predadores naturais, espalhou-se com uma grande velocidade, estando presente, hoje, em quase todos os estados brasileiros.
É sempre propício lembrar que zoonoses são doenças transmitidas entre homens e animais e não apenas entre o homem e o caracol. Sob o ponto de vista da saúde pública todos os animais consumidos pelo homem, seja domésticos ou silvestres, podem transmitir zoonoses.
Do ponto de vista higiênico-sanitário, a carne de diversas espécies domésticas consumidas diariamente pela população é capaz de transmitir antropozoonoses mais prejudiciais, inclusive, do que as produzidas pelos nematódeos Angiostrongylus costaricensis e A. cantonensis. No entanto, a evolução das normas sanitárias apropriadas à criação e ao abate desses animais contribuiu, decisivamente, para a superação destes riscos e nem por isso, deixaram de serem consumidas pelo homem.
Nem a população urbana está livre das zoonoses por morarem nos grandes centros no Brasil, apesar de possuir uma das melhores legislações ambientais do mundo, “é bastante comum estes animais silvestres e exóticos serem encaminhados às clínicas veterinárias, zôos, centros de triagem, expondo os profissionais e tratadores a um possível risco de contrair zoonoses”. (CORREIA e PASSOS, 2001 apud SILVA,
2003)
A correta profilaxia constitui instrumento sanitário indispensável para a criação racional de qualquer animal. Tais cuidados devem, simplesmente, ser extrapolados para o Achatina fulica que, infelizmente tem sido alvo de uma verdadeira caça as bruxas.
A coleta e destruição dos animais tem se mostrado ineficaz tanto do Brasil como no resto do mundo. A coleta do caracol (Achatina fulica) na natureza para a complementação da alimentação humana ou animal ou para fins industriais cosméticos e medicinais pode vir a ser a melhor forma de manter a sua população em níveis aceitáveis, para não ocasionar prejuízos significativos ao ambiente natural.
Num país como o Brasil, onde muitas pessoas ainda passam fome, temos que adotar uma postura séria e começarmos a fazer ciência, realmente, para quem precisa dela, a comunidade. O caracol africano é um animal rico em proteínas e com grande potencial medicamentoso, rotulá-lo simplesmente como nocivo por ignorância é um luxo que não podemos adotar.
No blog http://projetocaramujoafricano.blogspot.com/ você encontra mais informações a respeito do Achatina fulica, inclusive, um pequeno vídeo, hospedado no YouTube, que ensina, passo a passo, como preparar o caracol africano para consumí-lo (http://www.youtube.com/watch?v=-wuYX_wIiGA).

Referências:
GISP. Bioinvasion and Global Environmental Governance: The Transnational Policy Network on Invasive Alien Species. Disponível em: Acesso em: 16 fev 2010.
PRASAD, G. S., SINGH, D. R., SENANI, S and R.P. MEDHI. Ecofriendly way to keep away pestiferous Giant African Snail, Achatina fulica Bowdich from nursery. Global Invasive Species Database. Current Science 87: 1657-1659. 2004.
IUCN, Press Release22 January 2010: Impact of nature’s invading aliens measured for first time. Disponível: < http://www.gisp.org/> Acesso em: 17 fev 2010.
SOUZA, Renata Manzi de; ALVES, Ângelo Giuseppe Chaves; ALVES, Marcos Souto. Conhecimento sobre o molusco gigante africano Achatina fulica entre estudantes de uma escola pública na Região Metropolitana do Recife. Departamento de Biologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Recife – PE. Biotema, 20 (1): 81-89, março de 2007.
NEUHAUSS, Erli; FITARELLI, Monaliza; ROMANZINI, Juliano; GRAEFFE-TEIXEIRA, Carlos. Low susceptibility of Achatina fulica from Brazil to infection with Angiostrongylus costaricensis e A. Cantonensis. Pontificia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Laboratório de Biologia Parasitária, Faculdade de Biociências da PUCRS. Porto Alegre, RS, 2007.
CALDEIRA, Roberta Lima et al. First Record of molluscs naturally infected with Angiostrongylus cantonensis (Chen, 1035) (Nematoda:Metastrongylidae) in Brasil. Mem Inst. Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Vol. 102(7): 887-889, 2007. Disponível em: Acesso em: 20 de mar de 2010
SILVA, Jean Carlos Ramos. Zoonoses e Doenças Emergentes Transmitidas por Animais Silvestres. Disponível em: Acesso em: 17 fev 2010.
* É médico veterinário e ex-presidente da Associação de Criadores de Escargot (AHRJ) no Rio de Janeiro, a primeira associação de criadores de caracóis do Brasil. O aproveitamento racional da espécie é o tema do seu mestrado em Saúde e Ambiente,na UNIT em Aracaju.
Publicado em:
GAZETA DE ALAGOAS. Achatina fulica no Brasil. Disponível em: http://gazetaweb.globo.com/v2/gazetadealagoas/lista_cadernos.php?cod=171673&ass=57&data=2010-10-02 Acesso em 01/11/2010.

ONGS, CURSOS TÉCNICOS, FACULDADES EM CADA ESQUINA E O CHARLATANISMO, TODOS NA CONTRAMÃO DA MEDICINA VETERINÁRIA

Por Mauricio Aquino*

A Clínica Veterinária nunca esteve tão ameaçada como nos últimos anos e temos como causas: as ONGs; as dezenas de novas faculdades que se multiplicam como coelhos e mais recentemente, os cursos técnicos em veterinária, uma fábrica literal de charlatães na opinião da maioria dos colegas.

Para exemplificar melhor essa situação começaremos abordando o tema ONGs.

Em essência, as Organizações Não Governamentais sem fins lucrativos, também conhecidas pelo acrónimo ONGs, são associações da sociedade civil com finalidades públicas que desenvolvem ações em diferentes áreas e que, geralmente, mobilizam a opinião pública, buscando o apoio junto a população para modificar determinados aspectos da sociedade.

Usado pela primeira vez pela Organização das Nações Unidas, em 1950, o termo ONG define toda organização da sociedade civil não vinculada ao governo e, embora não tenha vínculo com o governo essas organizações podem complementar o trabalho do Estado, realizando ações onde ele não consegue chegar, podendo receber financiamentos e doações do mesmo e também de entidades privadas, para tal fim.

Essas organizações podem ainda ser qualificadas como OSCIPs (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público) e com esta qualificação, podem remunerar os seus diretores, além de poder realizar parcerias com orgãos governamentais constituindo importante alternativa para que a iniciativa privada intervenha de maneira organizada na sociedade, promovendo ações sociais, culturais ou assistenciais. O Estado oferece-lhes benefícios fiscais. Mas ao contrário do que muitos pensam, nem todas as ONGs são pobres, carentes ou trabalham com voluntários. Algumas são muito ricas e as pessoas recebem salários dignos e mordomias como carro e casa de graça.

Portanto, toda ONG está sujeita, como todos nós, a prestação de constas, a fiscalização sanitária, a inscrição no conselho regional local, o enquadramento legal e demais obrigações pertinentes, portanto, não podemos admitir que algumas Organizações Não Governamentais exerçam atividade pertinente ao médico veterinário de forma banal, desqualificada e desrespeitosa aos direitos consagrados ao médico veterinário, bem como o uso de artifícios de apelo social no objetivo de sensibilizar a sociedade civil.

Cabe salientar que os médicos veterinários, quando da sua negativa em participar ativamente como voluntários nestas organizações, tornam-se concorrentes locais e, de forma vil, desleal e incoerente, ficam sujeitos aos baixos valores praticados por estas ONGs que margeiam, em sua maioria, a ilegalidade.

Outra ameaça importante que devemos abordar é o Charlatanismo. É do conhecimento geral que, por falta de uma fiscalização atuante, a grande maioria dos estabelecimentos comerciais ditos, agropecuários, não só aplicam vacinas sem a supervisão do profissional veterinário, como também, alguns deles, são responsáveis pelo exercício ilegal da profissão, prescrevendo medicamentos, alterando receitas de veterinários, realizando consultas, pequenas cirurgias e até mesmo, internando animais para tratamento nos fundos de suas lojas, em condições deploráveis de higiene.

Tudo isso constitui irregularidades graves, de acordo com a legislação vigente que define como competência privativa do médico veterinário, a assistência técnica e sanitária aos animais sob qualquer forma... Lei nº 5517 de 23/10/68 ou ainda define como privativo do médico veterinário atestar a vacinação e a aplicação de qualquer produto que vise à proteção sanitária dos animais, determinando ainda que a vacinação de qualquer produto em animal só pode ser feita sob a orientação e o controle de médico veterinário... Resolução nº59, de 10/12/71 do CFMV ou estabelece como infrações sanitárias, fornecer, vender ou praticar atos de comércio em relação a medicamentos, drogas e correlatos cuja venda e uso dependam de prescrição médica... Lei 6.437 de 20/08/77 ou dispõe que a venda dos imunógenos, bem como das preparações farmacêuticas de uso veterinário que exijam uma efetiva e contínua orientação médico veterinária, face ao uso indevido e a possibilidade de promoverem efeitos colaterais indesejáveis, somente será efetuada mediante prescrição do médico veterinário, devidamente registrado no Conselho de Classe da Jurisdição... Portaria nº 149, de 26/12/96.

Recentemente, os clínicos veterinários estão sendo tomados de surpresa também pela proliferação de cursos para formação de “técnicos” em veterinária que em nossa opinião, estimulará a clandestinidade e o charlatanismo numa escala nunca antes vista em nossa história.

E como se isso não bastasse, ainda temos a questão da proliferação exagerada das faculdades de veterinária, que descobriram na educação um filão rentável que contribui diretamente para a prostituição da nossa profissão, pois não há mercado para tantos profissionais.

Como pode ver, a crise existe e se o bom senso aliado a ações integradas dos órgãos de fiscalização não forem adotadas em caráter perene e intensivo, todos os avanços conseguidos com o empenho dos profissionais da área cairão por terra.

O GADO ESQUENTA O MUNDO



A pecuária é uma das maiores fontes de gases causadores do efeito estufa no Brasil, que possui o segundo rebanho bovino do mundo, depois da Índia.

Rio de Janeiro - O Brasil poderia reduzir boa parte de sua responsabilidade no aquecimento da Terra apenas melhorando sua atividade pecuária. Os ruminantes herbívoros, como os bovinos, produzem grande quantidade de metano, um dos principais causadores do efeito estufa. O Brasil possui o segundo rebanho bovino do mundo, depois da Índia, com mais de 160 milhões de cabeças, quantidade equivalente à sua população e suficiente para inundar o mercado internacional de carne e leite, se sua produtividade não fosse baixa.
No Brasil, ainda está em elaboração inventário de emissões dos distintos gases, mas, sabe-se que a pecuária é uma das maiores fontes, depois da queima de florestas. O gado contribui com 29% do volume de metano emitido no território brasileiro, seja pela fermentação no processo digestivo ou pelos dejetos, explicou à IPS Magda Lima, coordenadora do inventário dessa área. Esse gás também é produzido por combustíveis fósseis, pela agricultura, por resíduos e processos naturais dos pântanos, por exemplo. Além dos animais ruminantes, o cultivo de arroz em zonas alagadas é outra fonte, concentrada na Ásia em 90%.
As emissões de gases pelo gado no mundo somam cerca de 94 teragramas (Tg=milhões de toneladas) por ano, e o Brasil contribuiu com 9,97% do total entre 1986 e 1995, segundo cálculos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), onde Magda trabalha. No entanto, essa participação poderia diminuir, já que o país não necessita de tanto gado para manter sua produção anual de alimentos. No caso do leite, por exemplo, bastaria um quinto do número existente de vacas, afirma a pesquisadora. Isto seria possível se o Brasil alcançasse a produtividade da Austrália e da Nova Zelândia, acrescenta Paulo Machado, professor da Escola de Agronomia da Universidade de São Paulo (USP), que dá assessoria à Associação Brasileira de Criadores de Gado Holandês. Com vacas como as dos Estados Unidos, que produzem sete toneladas anuais de leite, seria possível reduzir o rebanho leiteiro brasileiro a um décimo do seu número atual, acrescenta o pesquisador.
A tendência é uma redução drástica na quantidade de animais, embora, no momento, seja lenta e, num futuro não muito longe, o consumo de leite dobre, acrescenta o professor. Para isso deverá contribuir um Programa Nacional de Qualidade, anunciado pelo governo. Embora admitindo o excesso de gado no Brasil e sua responsabilidade no efeito estufa, o professor Machado destaca a importância dos animais, capazes de transformar pastagens e outros vegetais não comestíveis pelo ser humano em alimentos nobres, como carne e leite, e em matérias-primas, como o couro.
Porém, o gado não gera apenas o gás que contribui para esquentar a Terra. No Brasil, também está associado ao maior problema ambiental nacional, os incêndios florestais e a forte concentração da propriedade rural, fonte de graves conflitos sociais. Em muitos casos, especialmente na fronteira agrícola, queima-se as florestas para dar lugar a pastagens e nela instala-se e abandona-se milhões de reses, apenas para assegurar a posse de grandes extensões de terra, como um sinal de ocupação. A produção de carne e leite não é o objetivo principal.
Isto é o que mais preocupa ambientalistas como Rubens Born, diretor da organização não-governamental Vitae Civilis: o gado como agente das queimadas na Amazônia, que geram as maiores emissões de gases no Brasil, neste caso o dióxido de carbono, principal responsável pelo efeito estufa. Born, que participou em Haia da conferência das Partes da Convenção Marco sobre Alteração Climática, prefere esperar a conclusão do inventário nacional para ter uma idéia mais precisa da responsabilidade proporcional do metano bovino”. (OSAVA, 2010) ☼
Referência: OSAVA, Mário. O gado esquenta o mundo. Disponível em: . Acesso em 29/10/2010.